Lula adia escolha de ajudante de ordens e desconfia de parte de militares

Presidente Lula em reunião ministerial
Presidente Lula em reunião ministerial

O presidente Lula sobe o tom e escancara os fatos

Após extremistas tentarem provocar uma intervenção, o presidente endurece seu discurso e afirma que soldados e primeiros-ministros eram negociadores

A tensão aumenta no meio militar. Isso ocorre quatro dias após extremistas tentarem provocar uma absurda intervenção militar no país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva endureceu sua retórica sobre as Forças Armadas, dizendo que elas “não são o impedimento que pensam ser”. Em meio a críticas e reclamações sobre a atuação dos militares no ataque de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, Lula admitiu ao Estadão que havia “perdido a fé” em parte dos militares da ativa.

A situação levou a uma mudança sem precedentes no gabinete do presidente da república. Pela primeira vez, o presidente rejeitou o envio de militares fardados. A imagem da “cordinha” como são conhecidas, deixa de existir.

Anteriormente reservado para os militares, o recurso tratava de oficiais de carreira em ascensão que se tornaram muito próximos do CEO, obtendo acesso a informações pessoais confidenciais, como celulares e pastas dos presidentes. O ajudante de ordens está sempre com o presidente, inclusive durante reuniões privadas e no carro do presidente, o que justifica os cuidados.

Em café da manhã com jornalistas disse que não tem mais ajuda militar.

“Eu perdi a confiança, simplesmente. Na hora que eu recuperar a confiança, eu volto à normalidade”, admitiu Lula.

O presidente já substituiu os militares pela polícia federal no círculo de guarda-costas.

Lula citou a ameaça de morte verbal do exército aos petistas. ao sargento da Marinha Ronaldo Travassos, anteriormente lotado no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e aquartelado em um campo de intervenção no quartel-general. O governo Lula foi informado que o ex-ministro do GSI Augusto Heleno, general da reserva, assessor de Jair Bolsonaro e opositor do PT estava servindo na área.

“Eu pego no jornal um motorista do Heleno dizendo que vai me matar e que não vou subir a rampa. Outro tenente diz que vai me dar um tiro na cabeça, que não vou subir a rampa. Como vou ter uma pessoa na porta da minha sala que pode me dar um tiro?”, afirmou o presidente.

As sucessivas decisões e declarações de Lula aumentaram o ressentimento e a rejeição ao presidente nos mais altos escalões do exército, marinha e aeronáutica. Nos meios militares, interpreta-se que Lula aumentou a tensão. Alguns generais simpatizam com Bolsonaro, que deu aos quartéis poder político e cortes salariais. Durante toda a campanha, Lula não conseguiu se comunicar com os generais, não criou um grupo temático para o período de transição e teve que superar a saída precoce de ex-comandantes leais ao seu antecessor.

Suspeita-se que ainda haja desconhecidos nas Forças Armadas que participaram das ações de domingo.

O GSI enviou reforços de segurança ao Planalto 20 horas antes do golpe.

O Plano Escudo, protegendo o palácio, só entrou em funcionamento depois de os vândalos ocuparem a sede administrativa; O governo Lula desconfia da Secretaria de Segurança Institucional

Nos primeiros dias de mandato, ele destituiu militares de cargos de liderança no “processo de enfraquecimento” da Esplanada dos Ministérios e ordenou o desmonte de quartéis dos acampamentos bolsonaristas. Um dia depois do golpe, ele acusou os comandantes em uma reunião fechada de “onde estava” o exército enquanto o palácio era tomado e vandalizado.

Lula também argumentou que a força armada não é uma força de dissuasão. Os aliados de Bolsonaro defenderam o argumento, que não está previsto na constituição, de que os militares podem intervir nas atividades do governo com base na interpretação do artigo 12.

“As Forças Armadas não são poder moderador como pensam que são. As Forças Armadas têm um papel definido na Constituição que é a defesa do povo brasileiro e a defesa da nossa soberania contra conflitos externos. É isso que eu quero que eles façam bem feito”, completou Lula.

O presidente revelou nesta quinta-feira, 12, que foi informado que integrantes das caravanas bolsonaristas não poderiam desembarcar na área do quartel-general, o que ocorreu. Ele também reclamou que entre os residentes permanentes estavam “mulher e filha de general”, referindo-se à família do general Eduardo Villas Bôas. O ex-chefe do Exército, ainda influente no quartel, escreveu um tuíte que pressiona o STF antes do veredicto do recurso, que poderia impedir a prisão de Lula em 2018.

“Teve muita gente conivente, Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar”, afirmou o presidente.

A tensão aumentou

Lula expôs duas vezes o exército. Primeiro, disse ele, recebeu um telefonema de um general na noite de domingo, pedindo-lhe que desistisse de sua estratégia de perseguir os atacantes que destruíram o palácio em um acampamento fora do quartel-general. O argumento era que uma tragédia poderia acontecer. Dois veículos blindados foram colocados na rua que dá acesso ao setor militar. Eles impediram a entrada do primeiro-ministro. Ao amanhecer, os extremistas fugiram.

“Os tanques estavam protegendo o acampamento. O general me ligou dizendo para que não entrasse no acampamento de noite que era perigoso”, disse o presidente.

Mais tarde, ele acusou membros do batalhão da guarda presidencial de conspirar com os agressores , para que os radicais saíssem do prédio.

“Quero ver todas as fitas gravadas. Teve muita gente da PM conivente, muita gente das Forças Armadas aqui dentro conivente. Eu estou convencido de que a porta do Palácio do Planalto foi aberta para essa gente entrar porque não tem porta quebrada. Ou seja, alguém facilitou a entrada deles aqui”, disse ele.

No Twitter a repercusão continua em alta

GLO foi descartada por Lula

Lula revelou que descartou uma operação de lei e ordem (GLO), para a qual o exército estava em alerta, como alternativa à intervenção federal.

Um advogado de defesa colocou a moção na mesa do presidente e, segundo ele, foi rejeitada “na hora”.

“Se tivesse feito a GLO, eu teria assumido a responsabilidade de abandonar a minha responsabilidade. Aí, sim, estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam. O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. Quem quiser assumir governo que dispute a eleição e ganhe”, complementou o presidente.

A situação continua tensa em Brasília e aguardamos o andamento das investigações que prometem ser profundas na apuração de muito mais nomes envolvidos nos atos terroristas e ilegais, desde o golpe militar articulado às depredações, destruição de obras de arte de valor inestimável e ameaças que insanos insistem em manter em publicações nas redes sociais, produzindo, cada vez mais, provas contra eles mesmos.

Da Redação O Estado Brasileiro