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Matéria atualizada 23:40h
A Índia, por não ter se comprometido em entregar agora o pedido de liberação das 2 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca/Oxford, que o Ministério da Saúde requisitou ao Butantan, fez com que o governo exigisse a entrega imediata das 6 milhões de doses da CoronaVac.

A negativa formal acabou com a expectativa do governo federal para o uso do imunizante no início da vacinação em todo o País. Com isso, o Ministério da Saúde solicitou nesta sexta-feira, 15, a entrega “imediata” de 6 milhões de doses da Coronavac, produzidas pelo Instituto Butantã, em parceria com a chinesa Sinovac.
Bolsonaro, sem saída, declarou em entrevista à Band TV:
“Resolveu-se, não foi decisão nossa, atrasar em um ou dois dias até que o povo comece a ser vacinado lá (na Índia), porque lá também tem as pressões políticas de um lado ou de outro”.
Bolsonaro chegou a declarar que não compraria o imunizante chinês – que acabou comprando. Foi a aposta do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu adversário político, para a vacinação no Estado. Na semana passada, ele também ironizou a eficácia de 50,4% da vacina.
Diz o ofício enviado pelo ministério ao diretor do Butantã, Dimas Covas:
“Ressaltamos a urgência na imediata entrega do quantitativo contratado e acima mencionado, tendo em vista que este Ministério precisa fazer o devido loteamento para iniciar a logística de distribuição para todos os estados da federação de maneira simultânea e equitativa, conforme cronograma previsto no Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a COVID-19, tão logo seja concedido a autorização pela agência reguladora, cuja decisão está prevista para domingo, dia 17 de janeiro de 2021”.
Ministério da Saúde
Em entrevista no Palácio dos Bandeirantes, Doria afirmou que cerca de 4,5 milhões de doses da CoronaVac seriam encaminhadas para o Ministério da Saúde para que fossem incorporadas ao Plano Nacional de Imunização do governo federal, enquanto o restante das doses ficariam no Estado.
“As vacinas que cabem ao Brasil serão encaminhadas ao Ministério da Saúde”, disse o governador. “Vacinas de São Paulo ficarão em São Paulo”.
Em nota, o Butantã disse que questionou o ministério sobre qual a quantidade de doses que será destinada a São Paulo. “Para todas as vacinas destinadas pelo instituto ao Programa Nacional de Imunizações, é praxe que uma parte das doses permaneça em São Paulo, Estado mais populoso do Brasil. Isso acontece, por exemplo, com a vacina contra o vírus influenza, causador da gripe”, disse o instituto.
No ofício, o Butantã pede, no entanto, que o governo federal informe o quantitativo de vacinas que será destinado ao Estado de São Paulo, questiona a data e horário em que será iniciada a campanha de vacinação “simultaneamente” em todo o País. “Aguardamos orientação de V. Senhoria quanto ao início da campanha de vacinação, com confirmação de data e horário definidos, considerando que deverá ocorrer simultaneamente em todos os Estados do Brasil”, diz o documento.
Ofício do Instituto Butantan:
“Entregaremos a totalidade das doses requeridas; e solicitamos que V. Senhoria nos informe o quantitativo a ser destinado ao Estado de São Paulo para que o mesmo seja entregue imediatamente ao CDL-SES-SP como de praxe para as demais vacinas produzidas pelo Instituto Butantan”, diz o ofício.
“Por fim, ressaltamos que a disponibilização deverá ocorrer tão logo seja concedida a autorização pela agência reguladora”, acrescenta o documento. A Anvisa deve decidir no domingo, 17, se libera o uso emergencial da Coronavac e da vacina de Oxford. Até lá, estes imunizantes deveriam ficar sob guarda do Butantan e da Fiocruz.
O documento foi enviado ao diretor do Departamento de Logística em Saúde do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, e é assinado por três autoridades da Fundação Butantã: o diretor presidente, Rui Curi, o superintendente Reinaldo Noboru Sato e o diretor Dimas Tadeu Covas.
Segundo o Itamaraty, o governo indiano mostrou “boa vontade” em liberar a carga, mas apontou “dificuldades logísticas”, pois o pedido brasileiro ocorre no momento em que o país começa a sua campanha de vacinação contra a covid-19 e, portanto, há um sensibilidade política interna para, ao mesmo tempo, liberar 2 milhões de doses ao Brasil.
“Foi tudo acertado para disponibilizar 2 milhões de doses, só que hoje, nesse exato momento está começando a vacinação na Índia, País com um bilhão e trezentos milhões de habitantes”, afirmou Bolsonaro em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, da TV Band. Segundo ele, a decisão de atrasar a entregas do imunizantes ao Brasil, antes prevista para domingo, não foi do governo brasileiro.
O avião da Azul que deveria buscar as doses produzidas pelo laboratório indiano Serum deveria decolar de Recife na quinta, 14, mas o voo foi adiado por “problemas logísticos internacionais”. Mais cedo, o Ministério das Relações Exteriores já admitia a possibilidade de atraso no cronograma de busca dos imunizantes.
Até a redação desta matéria, o Ministério da Saúde não havia respondido ao Butantan, qual seria a cota de doses que permaneceriam em São Paulo.
Caso o Governo Federal determine que as vacinas deverão ser encaminhadas para Brasília, em seu total, para depois retornar a cota que cabe a São Paulo, deixará clara a preocupação da chamada “primeira foto”, fato político que custará ao presidente, duras críticas e uma ampliação do seu, já, enorme desgaste.
Enquanto tudo isso ocorre, um panelaço em todo território nacional contra o presidente e a “União” entra com o pedido de uso emergencial, na Anvisa, para a vacina “Sputnik V”.
Da Redação O Estado Brasileiro
Fonte: Estadão conteúdo
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