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O governo russo nega sua participação em tal campanha.
Para influenciar países latino-americanos, veículos russos ligados ao governo divulgam informações falsas sobre os imunizantes dos EUA e da Europa e elogiam a Sputnik V.
Agências de notícias russas ligadas às campanhas de desinformação durante as eleições nos Estados Unidos têm agora uma nova meta: convencer os países latino-americanos de que a vacina russa contra o novo coronavírus é melhor do que as suas concorrentes americanas e europeias. É o que afirmam pesquisadores e autoridades do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
A campanha dos russos tem por alvo os países latino-americanos e o México, após fecharem acordo para aquisição de milhões de doses da vacina russa, e a Argentina, que no mês passado começou a vacinar seus cidadãos com a Sputnik V.
Embora o governo russo negue sua participação, a campanha é um novo aspecto das operações de influência dos russos, promovendo sua indústria e a qualidade científica superior à dos seus concorrentes em um momento em que governos estão em uma corrida para vacinar suas populações.
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A Sputnik V é a mais barata e fácil na questão logística, se comparadas com as produzidas pela Pfizer e a Moderna, ambas empresas americanas. No entanto, segundo alguns pesquisadores, os ataques das agências russas contra as vacinas ocidentais são desleais.
“Quase tudo que vêm promovendo sobre a vacina é manipulado e sem contexto”, disse Bret Schafer, membro da Alliance for Securing Democracy, grupo de defesa que monitora a desinformação que parte da Rússia. “Cada notícia ou questão negativa envolvendo a vacina fabricada nos Estados Unidos é amplificada, ao mesmo tempo que eles trazem uma enxurrada de matérias positivas sobre a vacina russa”.
Agências de mídia respaldadas pelo governo russo postaram no Facebook e no Twitter centenas de links para notícias e reportagens que sugeriam que as vacinas americanas poderiam ter tido um papel em algumas mortes, disseram os pesquisadores. Por outro lado, elas omitiam notícias veiculadas posteriormente segundo as quais as vacinas provavelmente não tinham nada a ver com as mortes.
“Trata-se de um esforço coordenado que em parte é uma campanha de relações públicas e em parte desinformação. É uma das mais vastas operações que já vimos para promover uma narrativa em torno da vacina na América Latina e parece que tem tido efeito”, disse Jaime Longoria, pesquisador da entidade sem fins lucrativos First Draft, que dá suporte a jornalistas e pesquisadores independentes. “A Rússia criou um discurso que vem se desenvolvendo e até certo ponto tem sido aceito”.
Os pesquisadores rastrearam esforços similares dos russos em países da Europa Oriental que ainda vêm negociando com a Rússia a compra da vacina. Os pesquisadores especialistas em rastrear a desinformação também verificaram que a Rússia adota um discurso similar em várias línguas tendo por alvo países da África Central e Ocidental.
A China também entrou na briga, adotando um tom similar antiamericano no caso da vacina com vistas ao público doméstico. Embora Rússia e China ao que parece não estejam trabalhando juntas, os dois países compartilham interesses que levam ao mesmo tipo de discurso. No mês passado, uma conta no Twitter dedicada à Sputnik V incluiu uma notícia chinesa que afirmava, falsamente, que a mídia dos Estados Unidos se manteve calada sobre as mortes relacionadas à vacina da Pfizer.
Membros da inteligência dos Estados Unidos observaram pela primeira vez um aumento dos esforços russos com foco em comunidades de língua espanhola em agosto, quando o presidente Vladimir Putin anunciou a aprovação da vacina. Desde então a campanha russa tem se intensificado, segundo dois oficiais da inteligência.
Membros do Departamento de Estado descreveram a campanha de influência dos russos como uma combinação de agências de mídia financiadas pelo Estado destacando notícias sobre os perigos das vacinas americanas e ao mesmo tempo promovendo informações entusiasmadas sobre a vacina produzida na Rússia.
No mês passado circulou no Departamento de Estado um informe descrevendo os esforços da Rússia. Segundo o porta-voz do departamento, a Rússia tenta promover sua própria vacina ao mesmo tempo que procura “disseminar a desconfiança” das vacinas ocidentais nos Estados Unidos.
Ao analisar mais de mil contas de origem russa no Twitter, o Global Engagement Center, órgão do Departamento de Estado americano, verificou que as contas em língua espanhola estão fortemente engajadas na campanha russa, o que “prejudica o esforço global coletivo para pôr fim à pandemia”, disse o porta-voz.
A campanha de influência no México foi a que deixou mais evidentes os esforços das agências ligadas ao Kremlin. Ela foi diferente de outras campanhas de desinformação russas. As companhias de mídia social se tornaram mais agressivas nas medidas para extirpar a desinformação. As operações russas têm se concentrado em promover reportagens seletivas que fogem à verdade em vez de rejeitá-las.
“Sabemos que essas operações de influência adquirem diferentes formatos, incluindo mensagens claras promovidas pela mídia estatal. Colocamos rótulos nítidos no caso desses editores de maneira que as pessoas saibam de onde partiu a informação”, disse Liz Bourgeois, porta-voz do Facebook.
Segundo ela, o Facebook observou algumas operações russas clandestinas mencionando a Covid-19 no passado, mas não descobriu campanhas desse tipo atualmente. As postagens de agências de notícias russas não são consideradas clandestinas e não foram removidas pelo Facebook.
O Twitter se recusou a comentar sobre qualquer operação russa destinada a públicos falantes de espanhol, mas disse que ainda está investigando.
A campanha russa se baseia em notícias selecionadas criteriosamente, disseram os pesquisadores. Em 17 de janeiro o Russia Today em língua espanhola, em seu Twitter, informou que a Noruega estava investigando as razões pelas quais 23 pessoas idosas haviam morrido após receberem a vacina da Pfizer. Três semanas antes, a mesma conta postou várias notícias sobre seis pessoas que morreram durante testes também com a vacina da Pfizer. As notícias não incluíram explicações de especialistas médicos, segundo os quais as mortes não tiveram nenhuma relação com a vacina.
E informações similares circularam no Facebook do Russia Today. Em cinco de janeiro, em sua página em espanhol na plataforma, a agência divulgou para seus 17 milhões de seguidores notícia segundo a qual uma enfermeira portuguesa morreu dois dias depois de receber a vacina da Pfizer. A informação dava a entender que a vacina havia sido a responsável, apesar de os médicos e a autópsia realizada concluírem que a vacina não teve nenhum papel na morte da mulher.
Os corpos diplomáticos da Rússia também usam a mídia social para promover uma imagem de que a vacina russa estava sendo submetida a um escrutínio desleal.
O volume de postagens é notável, disse Longoria e outros que vêm estudando essas operações de influência da Rússia. No On CrowdTangle, ferramenta de propriedade do Facebook que analisa as interações no site, eles descobriram que as páginas da Russia Today e Sputnik direcionadas ao público de língua espanhola, geraram mais de mil postagens com mais de seis milhões de interações durante o ano passado com a palavra “vacuna”, que significa vacina em espanhol. /Tradução de Terezinha Martino.
Da Redação O Estado Brasileiro
Fonte: conteúdo Estadão
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