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Como se não bastasse, um plano sem qualquer data expressa.
Como assim?
“Ficamos sabendo e só tomamos ciência do conteúdo pela mídia!” afirmam os especialistas.
O grupo de especialistas divulgou nota na noite deste sábado, 12, afirmando não ter sido consultado sobre a versão final do texto, tornado público neste sábado após o governo federal enviar o plano ao Supremo Tribunal Federal (STF), como se todos tivessem dado aval e assinado, sendo que desconheciam o conteúdo do qual não foram consultados.
“Nos causou surpresa e estranheza que o documento no qual constam os nomes dos pesquisadores deste grupo técnico não nos foi apresentado anteriormente e não obteve nossa anuência”, diz nota assinada por 36 especialistas do grupo técnico do eixo epidemiológico do comitê. O trabalho dos especialistas no comitê era dividido em dez eixos temáticos.
O documento de 96 páginas, onde várias delas constam nomes dos colaboradores que sequer conheciam o conteúdo, foi criticado por ser vago, não prever pontos chave e com informações que não mostram como será ou poderá ser executado.
No plano, o ministério não traz um planejamento de quais indivíduos seriam vacinados primeiro dentro dos grupos prioritários, já que não deve haver doses disponíveis para todo o público-alvo no início. O documento também menciona que as 70 milhões de doses ainda estão em negociação com a Pfizer. Lembrando que o laboratório tenta, há meses, marcar uma reunião com o governo, sem qualquer sucesso. Agora, na improvisação, o Brasil ficou como último da fila e receberá o que sobrar, porque a demanda é imensa e todos os países se adiantaram em seus planejamentos de compra.
Os especialistas criticaram o fato de não constar a previsão da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan, que foi insistentemente recomendado por eles, entre outras falhas grosseiras e indefinições.
Reclamam, também, da divisão de grupos, por ordem de prioridade, que não obedecem o recomendado e muito mais esclarecimentos.
Trata-se de um plano “cheio de discursos” e não de definições claras, além de não contemplar ou explicar a logística e a segurança. Quanto à segurança, o plano abre a possibilidade de existir, em breve, a comercialização clandestina das poucas e insuficientes doses previstas.
Eles destacam que, antes da divulgação do documento, haviam solicitado reunião com o ministério e “manifestado preocupação” com a retirada de grupos prioritários e com a não inclusão de todas as vacinas disponíveis que se mostrarem seguras e eficazes. O pedido havia sido feito na quarta-feira, 9, em outra nota pública divulgada pelo grupo.
Ethel Maciel, uma das especialistas, Professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Enfermeira, Epidemiologista e Pesquisadora do CNPq, tuitou:
Nós, pesquisadores que estamos assessorando o governo no Plano Nacional de Vacinação da Covid-19, acabamos de saber pela imprensa que o governo enviou um plano, no qual constam nossos nomes e nós não vimos o documento. Algo que nos meus 25 anos de pesquisadora nunca tinha vivido!
— Ethel Maciel, PhD (@EthelMaciel) December 12, 2020
A mesma especialista, que manifestou sua indignação, falando em nome de 36 pesquisadores que ignoravam o teor do documento, tão estupefatos quanto ela, na Globo News, ressaltou que no Brasil, eles sempre foram referência em planejamento de vacinações. O Brasil nunca passou por essa situação. Sabem o que fazem e em todos estes anos de experiência, sempre executaram essa tarefa de forma muito bem planejada e com sucesso.
O plano apresentado mostra que, na verdade, o governo federal não considera a análise, opinião e determinações da ciência e age de forma independente e amadora, provando que, na verdade, eles não têm plano nenhum. Tudo mostra que foi feito às pressas e sem qualquer embasamento e conhecimento.
Uma prova de que o governo não sabe o que fazer é que, segundo o Ministério da Saúde, o plano será apresentado e detalhado à população nesta quinta-feira e poderá “sofrer modificações durante o seu processo de implementação”. Não há planejamento ainda!
O grupo ainda relata:
“Houve uma apresentação de power point pela coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), mas coisas que estão no documento estão diferentes em relação ao que ela apresentou. Não circulou uma versão preliminar para a gente olhar e opinar”
Ethel disse que o grupo técnico pediu uma reunião com o ministério para esclarecimentos sobre o ocorrido e a pasta ficou de dar uma resposta sobre a possibilidade de encontro na segunda-feira, 14. No entanto, já entregaram o tal plano ao STF com o desconhecimento de todos.
Os especialistas reiteraram a cobrança de que “todas populações vulneráveis sejam incluídas na prioridade de vacinação, como indígenas, quilombolas, populações ribeirinhas, privados de liberdade e pessoas com deficiência”. Também destacaram a necessidade de “ampliação do escopo para todos os trabalhadores da educação” (não só os professores) e a inclusão de funcionários de outros serviços essenciais.
Exigem do governo federal “esforços do Ministério da Saúde para que sejam imediatamente abertas negociações para aquisição de outras vacinas que atendam aos requisitos de eficácia, segurança e qualidade, inclusive com laboratórios que reúnam condições de produção e oferta de doses de vacina e com outras empresas também com oferta de vacinas seguras e eficazes”.
No último dia 9, foi noticiado em várias mídias que cientistas de algumas das mais importantes instituições brasileiras e internacionais fizeram um apelo ao governo brasileiro para que sejam “imediatamente abertas negociações com o Instituto Butantã”, de São Paulo, responsável pela produção da Coronavac, em parceria com o laboratório chinês Sinovac. E também para que a vacinação comece “o quanto antes”. A vacina não está sendo oficialmente considerada pelo Ministério da Saúde para a campanha de imunização contra a covid-19.
O grupo ainda destaca
“Um atraso na campanha de vacinação significa vidas perdidas”
“Essa é a mais importante tarefa de nosso tempo e todos os esforços devem ser envidados para a sua realização oportuna, segura e efetiva”.
O assunto, certamente, provocará reação do STF, através do Ministro que solicitou o plano, Ricardo Lewandowski, nas vésperas do julgamento marcado para discutir a obrigatoriedade da vacina.
Da Redação O Estado Brasileiro
Fonte: Estadão / Globo News
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