Sobre Decisões Patrióticas – General Rocha Paiva

General Rocha PaivaA mídia está veiculando uma reprimenda do Ministro Teori Zavaski ao Juiz Sérgio Moro, por ter autorizado a divulgação daquela ligação telefônica em que a presidente afastada Dilma Rousseff conversa com Lula, às vésperas de sua posse na Casa Civil (que foi anulada) em que, aparentemente, tentava blindá-lo contra uma possível prisão pelo Juiz Moro.

A atitude do Juiz Moro recebeu críticas de diversos setores, inclusive da justiça e eu considerei que deveria fazer alguma coisa a respeito, para defender a atitude do juiz.

Assim, escrevi um artigo que foi publicado no Estadão em 06 de abril. O título foi Decisões Patrióticas, onde eu opino que, diante de determinadas situações cujas consequências sejam graves, uma autoridade tem que tomar atitudes corajosas, mesmo que possam ser contestadas e trazer-lhe prejuízos pessoais e funcionais.

A seguir vai um extrato do artigo, com destaque ao que se refere o trecho acima apresentado.

DECISÕES PATRIÓTICAS
General da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva

Em situações complexas, delicadas e de alta relevância, homens de bem se impõem decisões de caráter moral, algumas vezes beirando os limites das normas legais. Nesses casos, uma autoridade pública corre o risco de ser questionada por uns e, ainda que defendida por outros, sofrer consequências pessoais e profissionais. É que determinadas decisões, discutíveis em situações de normalidade, são necessárias para evitar um mal maior quando a omissão, a inconsequente servidão à burocracia e a covardia moral resultarem em perdas, injustiças e danos morais e materiais em níveis inaceitáveis para os cidadãos, as instituições e a Nação.

Hoje, o cenário nacional apresenta elevados níveis de complexidade e ameaças, cujas consequências não podem ser menosprezadas por autoridades públicas comprometidas com a Nação, pois têm a obrigação de avaliar os riscos para a sociedade. A consciência da responsabilidade social de seu cargo ou missão e de sua relevância para o futuro do País deve nortear suas decisões. Assim, as atitudes tomadas pelo juiz Sérgio Moro na condução da operação Lava-Jato têm sido, de fato, decisões patrióticas. O povo confia nessa investigação, que revelou as podres entranhas de uma nefasta estratégia da corrupção, cuja finalidade era garantir apoio político e econômico para manter o poder e, em muitos casos, enriquecer pessoas desonestas.

Lula poderia fazer coordenação política e participar do governo sendo ou não ministro de Estado. Por que só agora ele e o governo julgam imprescindível sua atuação como ministro? Lula é a pedra angular do atual sistema de poder e sua neutralização política, se condenado, desmontará o sistema e abreviará a crise.