Renan e a última utopia – semiparlamentarismo

O presidente do Senado Renan Calheiros tenta uma saída que amenizaria as consequências que ele próprio e tantos outros sofrerão. Ciente que muitos poderão, na hora do aperto, abrir os arquivos e acelerar sua queda e prisão, já que detém um grande estoque de processos abertos e acusações.

Num momento em que o PT, que ainda o mantém blindado e em liberdade, se afoga num mar revolto de delações e evidências de crimes, Renan prefere acreditar que sua proposta utópica encontre apoio no congresso, no senado e no silêncio da oposição e do povo, para manter Dilma na cadeira que, indevidamente, ainda ocupa.

Desconsiderou, também, a reação popular que está atenta a qualquer articulação política e pressionando incansavelmente os tomadores de decisão.

Aloízio Mercadante, assim como ocorreu com Delcídio do Amaral, já começa a ser abandonado pelo PT e Renan Calheiros antevê o mesmo para seu futuro próximo, quando estiver na alça de mira, no paredão que a Justiça Brasileira construiu e colocou em plena operação. Prova disso é ter chegado ao ponto de ousar o lançamento de pedido de prisão do ex presidente Lula.

O sistema parlamentarista, ao que parece, atende as expectativas daqueles que detém o mínimo de informação política. Porém, todos estão cientes de que, enquanto o PT estiver no poder, seria insano deixar que qualquer alteração no sistema político ocorra.

A prisão de Mercadante é vislumbrada por todos os analistas. Isso apavora o atual presidente do senado que teme o mesmo destino – em seu pesadelo diário, certamente, existe um Sérgio Moro, porque o conteúdo das acusações que lhe pesam, não negam este fato futuro. Há muitos inexplicáveis a explicar.

O panorama político atual está tornando uma rotina o surgimento de uma ou mais novidades diárias. E sempre desfavorável aos componentes da maior quadrilha já montada em toda história da política do planeta.

Isso tudo estava previsto!

Não se poderia desmontar um esquema gigantesco como este, sem traumas. O processo continua e somente o que se pode explicar vencerá. Um tranquilizante aos que, sequer, precisam explicar qualquer coisa e, pelo contrário, dentro da Lei, cobram explicações e punem quem não as cumpre.

Desculpe-nos Renan, mas não lhe desejamos boa sorte.

da redação OEB


Abaixo, segue a íntegra do conteúdo O Estado de São Paulo publicado em IstoÉ Dinheiro

Presidente do Senado começa a costurar semiparlamentarismo

Com o aval da presidente Dilma Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu articular a votação de uma proposta que reduziria os poderes da atual mandatária. A saída pelo semiparlamentarismo, calcula, permitirá à petista se manter no cargo sem ser afastada definitivamente pelo impeachment, que tende a ganhar impulso após os protestos do último domingo.

A sugestão, que foi discutida numa reunião a sós entre Renan e Dilma recentemente e revelada por ele a aliados próximos após a convenção do PMDB, preservaria o mandato da petista como presidente, mas deixaria a administração para um primeiro-ministro.

Esse posto, tradicionalmente ocupado por um parlamentar, poderia ficar com o vice-presidente Michel Temer, dependendo da emenda constitucional aprovada. A engenhosa solução aponta que Renan ainda resiste a abandonar Dilma. Tanto o senador Romero Jucá (PMDB-RR) como o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), já admitem nos bastidores que a gestão da presidente “acabou” e, por isso, é preciso buscar soluções alternativas. Renan acredita que a petista poderia ficar no cargo até o fim do mandato, mas teria de ceder poder.

Foi por isso que o presidente do Senado decidiu, na semana passada, criar uma comissão especial para discutir o regime de governo – o colegiado ainda não foi instalado. Contudo, a sugestão de Renan tem reduzidas chances de prosperar por dois aspectos, avaliam interlocutores. O primeiro, de ordem política: o desembarque do PMDB do governo, com aviso prévio de 30 dias, e os protestos do último domingo.

O segundo, de caráter legal, porque há dúvidas se uma proposta com esse teor, mesmo sendo uma emenda constitucional, poderia tramitar, uma vez que o Legislativo já rejeitou em 1993 em um plebiscito a mudança do regime de governo. O peemedebista, que ainda não fez uma avaliação pública dos protestos, considera o impeachment da presidente uma saída traumática, mas considera que ela ainda não capitulou. “Nem todos os cartuchos foram esgotados da parte dela”, afirmou a um assessor.