“Se a gente liberar diversas atividades, isso vai explodir [o número de casos] daqui a duas ou três semanas, a exemplo de Manaus”, diz sanitarista Christovam Barcellos, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) . E complementa: “Infelizmente, que essas imagens de Manaus sirvam de exemplo para outras cidades para se manter as atividades básicas funcionando, mas não liberar totalmente a circulação de pessoas e o comércio”
O motivo para isso é que, segundo o especialista, as consequências dessas medidas só vão ser vistas semanas depois, quando o cenário pode ter se agravado com a explosão de novos casos. “As ações que são tomadas hoje só têm resultados visíveis em sete dias”, esclarece. “Todos os países estão mostrando que as providências que são tomadas no começo da epidemia se refletem semanas depois. Então, Itália e Estados Unidos não tomaram quase nenhuma providência e agora estão pagando o preço por isso”, contextualiza.
Em relação ao cenário de Manaus, que já está fazendo cerca de 100 enterros por dia por conta do novo coronavírus, o sanitarista aponta que a capital deve se preparar para a chegada de novos casos do interior do estado. “Nos próximos dias e semanas, nós vamos ter um acréscimo de casos com essa pressão que vai vir do interior e Manaus precisa se preparar por ser a única cidade de referência com hospitais de porte e tecnologia suficientes para atender a essas pessoas no estado” .
Na terça-feira (21), o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB). O estado de saúde da capital já passou do status “de calamidade, uma vez que já ultrapassamos há tempos a situação de emergência”.
São Paulo
O secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, disse, nesta quarta-feira (22), que é impossível falar em medidas de relaxamento de isolamento neste momento. A declaração foi feita na véspera do anúncio do governo estadual sobre a medida de reabertura gradual do comércio.
“Se não fosse o isolamento social decretado pelo prefeito Bruno Covas, aqui na cidade, e também pelo governador [João Doria], nós evidentemente estaríamos hoje em uma situação muito mais agravada. O nosso sistema de saúde estaria muito mais pressionado”.
Segundo ele, mesmo com o isolamento, alguns hospitais que são referência para o tratamento da COVID-19 estão com 98% de ocupação. “Portanto, neste momento, é absolutamente impossível de se falar em relaxamento das medidas de isolamento. Elas nos ajudam para que a gente tenha um pouco mais de tempo para preparar o sistema de saúde, comprar equipamentos, abrir novos leitos, caso a doença venha a se agravar na nossa cidade, então, neste momento, não é hora de se falar em relaxamento dessas medidas”, destacou.
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