A Matrix da Nova Política

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Carlos Ferreira

Acredite, em 2021 a insanidade Bozoafetiva vai recrudescer nas redes sociais. Quem tiver bom senso, que ainda não tenha se inserido, vai embarcar nesta onda. É uma conclusão que pude avaliar depois de alguns dias perscrutando o perfil de uma infinidade de comentários, entre usuários e grupos, especialmente no Facebook que é a plataforma com a qual sou mais familiarizado.

Facebook que, aliás, é a plataforma e palanque da política cada dia mais virtual e insólita como assim se tornou a chamada Nova Política que Bolsonaro, o candidato, imprimiu no modelo de governança de Bolsonaro, o presidente eleito.

Não está sozinho, há toda sorte de outras páginas ou sites que coexistem nesse ambiente digital, consolidando o conceito que é, de longe, o único onde se pode dizer que existe de fato o que Bolsonaro chama de Nova Política.

No mundo real, lascou geral, não a que se falar em Nova Política por qualquer leitura ou narrativa que se faça. Já nesse ambiente digital, de modo contínuo, é o que temos para o café da manhã, almoço e jantar. Ali a esquerda e o comunismo são entidades malignas a que se dá um permanente combate; porque ali, na rede social, essas entidades existem. O PT continua assaltando o erário, juntamente com tantos outros inimigos da Pátria. Quem não rouba são traidores, simplesmente porque ousaram discordar daquele que é representante onisciente e onipresente de todos os valores disso que alcunhou de Nova Política, justo para contrapor os vícios da Velha Política.

Certo déjà vu me vem das experiências que alcunha equivalente denotava, a Nova República. Esta, outrora, também tinha um cabedal de valores semelhantes. Seu representante máximo vinha na proa da redemocratização do país; ou seja, com a transição do fim do regime militar e a expressão popular dos Caras-Pintadas, eleições diretas e a Constituinte. Em tudo existia, já naqueles anos, o ensejo cívico de uma nova ordem política e social para a pátria amada, Brasil.

Bolsonaro foi eficiente na maneira como não se apropriando da alcunha, apropriou-se de todo o resto daqueles sentimentos, os replicou como novos, remasterizando para esses tempos da era digital. Fenômeno nas redes sociais, fez de todas as faixas etárias uma legião de Caras Pintadas com uma oportuna adequação de propostas. Dessas, a mais contundente e que mais calou na base desse universo de adequações, foi o discurso anticorrupção.

Discordo quando se diz que a eleição de Bolsonaro se deu, em muito, graças ao sentimento antiPTista.  Por uma razão matemática é fácil supor que não haveria 2º Turno se esse sentimento antiPTista fosse de fato a causa. Menos se poderia imaginar o próprio PT na disputa com Bolsonaro.  Uma esmagadora maioria votou em Bolsonaro porque nele quis votar já desde o primeiro Turno, e depois porque ele ainda representava o voto anticorrupção por um lado, e o engajamento dos militares por outro. Esse vislumbre de um governo civil compartilhado com militares foi o extremo desse fenômeno, um outro déjà vu do tipo “éramos felizes e não sabíamos”.

Você revisita o perfil de uns e outros, parecem todos saídos de uma mesma linhagem. Visitou um visitou todos. Mas, curioso e engraçado é que, visitando todos, certamente a impressão deletéria seria que visitou nenhum.

Jovens, meia-idade, velhos… além da faixa etária o que muda é que parte são homens, uma parte maior ainda são mulheres; fiquei pasmo, eu juro. Existe, porém, uma relativa distinção sócio econômica:  Boa discussão na caixa de comentários sempre acontece com pessoas de classe média e classe média alta; não que não sejam boas em qualquer outro patamar social, mas especificamente ali são mais dissimuladas as conversas e mais pragmáticas as convicções.

Me ative a isso porque replicam argumentos com certo padrão de retórica, assim, como se bebessem de uma fonte que é a mesma para eles; contudo, é diferente da fonte onde os outros bebem. Passam essa impressão de informação privilegiada. São empresários, profissionais autônomos ou profissionais liberais bem-sucedidos. Maioria com ensino superior completo e inclusive pós e doutorado. Dei uns pitacos por lá para sentir uma reação aqui outra acolá. Eles argumentam e não polarizam, são até cândidos, se mantendo na postura “bolsominion” sem transparecer que sejam. Decidi que vou ser igual a eles, mas me falta o “glamour”.  

Como que o Mito conseguiu penetrar nessa camada tão avessa aos “Tiriricas?”.

Simples constatar, quem chega primeiro é o discurso, e o bojo de expectativas que um governo com esse discurso pode provocar. Por isso estou inclinado a permanecer nesse ambiente da rede social, como eles. Estou me sentindo melhor e mais seguro em relação à Educação, à Saúde, à Segurança Pública, ao Meio-Ambiente… as Obras de Infra-Estrutura, inclusive, são também um assombroso prodígio.

No que tange ao Combate a Corrupção e a Criminalidade, a gente vê progresso contínuo e isso porque à frente do Ministério da Justiça temos, agora, um Ministro de verdade. A Procuradoria Geral da República, que é um órgão de Estado, trabalha com um zelo peculiar para manter essa independência. O mesmo não dá para falar do Supremo Tribunal Federal, porque no mundo real aparenta ser uma coisa, mas por aqui cada Ministro do Supremo muda de adjetivo de hora em hora. Tudo pejorativo, naturalmente. Os militares daqui todo instante são solicitados a intervir no STF e no Congresso.  Muito diferente dos militares daí, que todo dia toda hora deixam bem claro que quartel não se mistura com política e que não querem saber de política no quartel.

Outros são os fatores que tornam esse mundo digital um fenômeno tão a cara do presidente. Aqui aglomeração pode, e não precisa usar máscara nem álcool gel por conta desta pandemia que aqui, no ambiente virtual, permanece uma gripezinha fácil de prevenir ou de tratar com azitromicina, ivermectina, fluoxetina e a cloroquina de modo geral.

A pandemia propriamente dito não existe; ponto. Apenas os desvios das verbas federais destinadas ao combate da crise sanitária que assola o Brasil do Real, e uma mão de Pilatos que se isenta de responsabilidades pois afinal o STF delegou poderes para os Governadores e Prefeitos. A plateia de seguidores do presidente avaliza e dá anuência, enche de impropérios esses ministros do STF e aplaudem… o presidente.  Se tudo resolvido, viramos a página.

Estamos num universo onde não se faz referências a nenhum dos filhos do presidente. Não existindo ou por não existirem, também não existe o Queiróz nem qualquer coisa que se vincule aos filhos.  Lula e os filhos do Lula, por outro lado…  Nem FHC escapa.  É prodigiosa a lista daqueles sem moral nem reputação.  Exceção, naturalmente, apenas para todos os bispos e pastores do núcleo de evangélicos; líderes ou donos de partidos, mas também para os “camaradas do Centrão”.  Roberto Jefferson e Luciano Hang, o dono da Havan, tem cada um seu respectivo Green Card presidencial em ambos os mundos, o que os distingue de todos os demais.

Aqui o presidente Bolsonaro é reverenciado por evangélicos, o que faz lembrar que sendo o país um Estado laico… o Brasil, neste governo, não é. Tanto os evangélicos como essa maioria das pessoas de bem, que prestigiam o presidente, tem-no o melhor presidente que nosso país já teve!  BRASIL ACIMA DE TUDO, DEUS ACIMA DE TODOS.

Estou convencido que o melhor de dois mundos é permanecer por lá, onde NÃO tem a pandemia, nem SUS nem respiradores e UTI’s, nem vacina para incomodar. Nem desemprego, nem carestia, nem auxílio emergencial. Crime organizado?  …só no Rio de Janeiro do lado de cá.

POR ISSO É PARA LÁ QUE EU VOU.

Na Matrix da Nova Política é bem mais garantido sobreviver ao caos. Todos ali comungam da mesma afinidade, falam a mesma língua, tem os mesmos eufemismos. Podem contar, cada um, com um mesmo PRESIDENTE E MITO para chamar de seu.

Lá todas as promessas de campanha estão cumpridas, salvo o que não estiver finalizado por causa das mesmas forças ocultas que já atuaram no passado contra outra presidenta específica.  

Mas tudo vai ficar bem, porque “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos Libertará”…

Assim vou fluindo em direção a realidade virtual dessas verdades absolutas. Fiquem vocês por aí, queridos amigos, nessa terra plana com pandemia e sem presidente.

Eu escolho permanecer na tranquilidade desta unidade ungida pelo patriotismo e a esperança de que unidos e reunidos nessa seara digital, sempre seremos Nós e o Presidente!

FELIZ ANO ANO NOVO!

Carlos Ferreira
Colunista Comentarista